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Saturday, April 23, 2011

Hollywood cai no conto da Carochinha






























“A Garota da Capa Vermelha”, que estréia essa semana nos cinemas brasileiros, teria dois atrativos a seu favor: a direção de Catherine Hardwicke, que realizou o primeiro filme da “Saga Crepúsculo” – o que, por si só, deve palpitar o coraçãozinho das meninas que veneram a trama vampiresca -, e o frescor de ser baseado em um conto infantil há muito tempo não tratado pelo cinema.

Não é possível mensurar o alcance do prestígio de Hardwicke – supõe-se que perdure enquanto a febre “Crepúsculo” persistir -, mas a novidade dessa empreitada certamente não vai durar por muito tempo. A versão repaginada de Chapeuzinho Vermelho é apenas a primeira de muitas que despontarão nos próximos anos. No gatilho, há pelos menos três projetos sobre Branca de Neve, um sobre a Bela Adormecida e um sobre João e Maria.

 
A Garota da Capa Vermelha
São todos baseadas nos contos que no Brasil ficaram conhecidos como “de 

Carochinha”. Sua raiz, porém, vem da Alemanha, onde os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm registraram histórias populares e folclóricas em algum ponto do século XVIII. Nas palavras dos Grimm, foram eternizados os contos de Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Rapunzel, O Príncipe Sapo, Os Músicos de Bremen, A Bela Adormecida, O Alfaiate Valente e a própria Chapeuzinho Vermelho.
Como as antigas fábulas de Esopo, protagonizadas por animais, as histórias agregavam um senso moral e pretendiam ensinar às crianças lições elementares sobre caráter e comportamento. Disseminados pelo mundo, os ensinamentos foram preservados – o conteúdo, nem tanto. As versões disneyficadas de muitos desses contos amenizaram trechos inaceitáveis para a infância pueril e protegida do século 20.
Amanda Seyfried nas filmagens de A Garota da Capa Vermelha
No original de Cinderela, por exemplo, as irmãs malvadas decepavam os próprios dedões e calcanhares para que seus pés se encaixassem no célebre sapatinho de cristal – e não é preciso ter visto a Cinderela de Walt Disney para supor que a passagem foi sumariamente descartada. “Para Sempre Cinderela” (1998), com Drew Barrymore no papel da heroína, foi lançado bem antes da tendência atual e prometia mais integridade ao conto – o que também não aconteceu.
Os pais se miram no exemplo: a versão de Chapeuzinho Vermelho que é hoje contada aos pequenos termina com um nobre Caçador chegando na hora H para impedir o ataque do Lobo-Mau; no conto dos Grimm, o Lobo devora a menina ao final, depois de saborear a avó como aperitivo – um desfecho contundente, mas ideal para reforçar o bordão “Nunca confie em estranhos”.
Drew Barrymore em Para Sempre Cinderela
Logo, a intenção primordial das versões recentes – repaginar os contos originais para torná-los mais sombrios – já parte de uma falácia. Chapeuzinho Vermelho e companhia limitada nunca precisaram ser mais fortes, sugestivos e ousados do que sempre foram em essência.
É irônico que “A Garota da Capa Vermelha”, alardeado como uma subversão da história, tenha sido apontado pela crítica como uma caixa de bombons tão inofensiva quanto “Crepúsculo” (inclusive, com a decisão de colocar a mocinha, interpretada por Amanda Seyfried, em meio a um triângulo amoroso muito similar ao de Bella, Edward e Jacob na obra de Stephenie Meyer).
Kristen Stewart como Branca de Neve
Resta saber se os próximos representantes da classe vão fazer jus ao conceito e realmente resgatar as discussões profundas dos contos originais.
Ao menos um deles, “Snow White and the Huntsman”, terá dificuldades em fugir da égide de “Crepúsculo”: no papel de Branca de Neve, estará ninguém menos que Kristen Stewart, a Bella Swan em pessoa. O enredo, porém, atingirá outra voltagem no momento em que a Rainha Má (Charlize Theron, de “Hancock”) encomendar o assassinato da enteada a um Caçador. Essa passagem, na qual o homem é incapaz de matar a princesa, é quase uma nota de rodapé no conto, mas se transformará no ponto central do filme.
Lily Collins como Branca de Neve
Simultaneamente, está sendo planejado “The Brothers Grimm: Snow White”, outro que tem uma ligação tangencial com “Crepúsculo”: a garota Lily Collins (“Um Sonho Possível”), escalada como a protagonista, é apontada como a namoradinha de Taylor Lautner, o lobisomem Jacob Black na franquia (os dois atuaram juntos no thriller “Abduction”, ainda inédito nos cinemas).
Na pele da filha do cantor Phil Collins, Branca de Neve não ficará sentada à espera de um Príncipe Encantado: depois que seu pai, o Rei, é assassinado pela Rainha Má (Julia Roberts, de “Comer, Rezar, Amar”), a Princesa se une aos sete anões para lutar pelos seus direitos. Armie Hammer (“A Rede Social”) foi escalado como o Príncipe, e a diferença de idade entre ele e Collins já é receita garantida para polêmicas futuras.
Hailee Steinfeld como Bela Adormecida
Além desses dois projetos, a Disney também prepara outra versão de Branca de Neve, intitulada “Snow and the Seven”, que pretende misturar bruxaria e, pasmem, kung fu.
Mudando de uma princesa para a outra, a Bela Adormecida também está escalada para protagonizar uma aventura em “Sleeping Beauty”. Vivida por Hailee Steinfeld, recém-indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Bravura Indômita”, a heroína fará muito mais do que apenas dormir: o roteiro dessa versão a coloca enfrentando vários desafios em um mundo de sonhos complexo e elaborado.
Jeremy Renner no set de Hansel and Gretel: Witch Hunters
Tim Burton, apontado como responsável por essa leva de filmes fabulosos, por conta do sucesso de “Alice no País das Maravilhas” (2010), também desenvolve sua própria versão do conto clássico, “Maleficent”, que recontará a história da Bela Adormecida a partir do ponto de vista da bruxa Malévola. Como Burton está com a agenda lotada, a adaptação ainda não tem data para começar a ser produzida.
Já “Hansel and Gretel: Witch Hunters” (“João e Maria: Caçadores de Bruxas”, em tradução literal), deve proporcionar a maior reinvenção ao conto em que se baseia. O filme, que já está em produção, traz Gemma Arterton (“Fúria de Titãs”) e Jeremy Renner (“Atração Perigosa”) como os personagens principais, 15 anos após os traumáticos eventos com a bruxa na casa de doces. Os dois se tornaram caçadores de bruxas implacáveis, prontos para matar qualquer uma que apareça no seu caminho. A trama deve seguir o tom de sátira, mesclando aventura e comédia.
Cena das filmagens de Jack the Giant Killer
Há, ainda, a aventura “Jack the Giant Killer”, baseada numa variação britânica do conto “O Alfaiate Valente”, dos irmãos Grimm. Com direção de Bryan Singer (“Superman Returns”) e muitos efeitos especiais, a trama vai acompanhar o rapto de uma princesa (Eleanor Tomlinson, de “Alice no País das Maravilhas”) e o heroísmo de um jovem (Nicholas Hoult, da série “Skins”) disposto a enfrentar um exército de gigantes para salvá-la. Ian McShane (“Piratas do Caribe 4″), Ewan McGregor (“Escritor Fantasma”), Stanley Tucci (“O Diabo Veste Prada”), Bill Nighy (“Anjos da Noite”) e John Kassir (“A Montanha Enfeitiçada”) também estão confirmados no elenco.
As abordagens diferenciadas dos projetos, que partem da mesma origem fabulosa, não deixam de ser um fator de curiosidade, mas também de risco e imprevisibilidade após o fracasso nas bilheterias de “A Garota da Capa Vermelha”. Nunca é demais lembrar que os contos dos irmãos Grimm em versão integral e imaculada podem ser encontrados em qualquer livraria.
A Garota da Capa Vermelha


                                                                                    Thiagolandgraf.


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